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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Construtora de prédio que desabou em SP tinha ‘quase’ escravos

Edição do dia 11/09/2013
11/09/2013 07h40 - Atualizado em 11/09/2013 08h16


Ministério Público do Trabalho encontrou 66 homens em condições degradantes em alojamento da Salvatta Engenharia. O local foi interditado.


Patrícia TauferSão Paulo, SP
Sessenta e seis homens vivendo em condições degradantes: foi o que encontrou o Ministério Público do Trabalho em um alojamento da Salvatta Engenharia, em São Paulo.  A Salvatta é a construtora responsável pelo prédio que desabou há duas semanas. Dez operários morreram.
No alojamento da Salvatta Engenharia, só dois banheiros para 66 homens, sem chuveiro. “Só a mangueira para pegar e tomar banho”, conta um dos trabalhadores.
Nos quartos, faltava ventilação. “É quente, bastante”, diz outro.
Na cozinha, o problema era a limpeza. “Eu acho que ninguém é digno de um lugar desse”, reclama mais um.
Os fiscais do Ministério Público do Trabalho chegaram ao alojamento na tarde desta terça-feira (10). Os quartos improvisados ficavam a poucos metros de onde os operários trabalhavam, a obra foi embargada por problemas de segurança.
Os fiscais pediram para que os operários reunissem tudo o que tinham para deixar o alojamento. “Seguiremos com as ações em face das empresas responsáveis por esse tipo de situação. Em razão da situação degradante pode ser caracterizado como tipo penal condições análogas a trabalho escravo”, declara Elisiene dos Santos, procuradora do Ministério Público do Trabalho.
O primeiro passo foi cadastrar os funcionários. Na ficha, os fiscais anotavam a quanto tempo cada um trabalhava ali, se estavam recebendo salário em dia, se tinham registro na carteira.
Com essas informações, o Ministério Público do Trabalho vai cobrar da empregadora todos os direitos atrasados e também os custos que a empresa terá a partir de agora.
Os operários foram levados para dois hotéis na região central de São Paulo, onde vão permanecer até que a empresa providencie transporte para que todos voltem para casa.
Na fila de entrada do hotel, um misto de alívio e preocupação. “Estou feliz que eu estou voltando para casa, minha família vai me receber bem. Só que eu não queria estar nesse estado. Queria continuar trabalhando”, diz Jailson Gomes da Silva, pedreiro.
Jailson chegava a ganhar três vezes mais do que no interior do Maranhão, de onde veio. Em São Paulo, ele trabalhou em outra obra da Salvatta, a que desabou há duas semanas, na zona Leste de São Paulo, matando dez funcionários.
Jailson ajudou nos resgates. “Quando eu cheguei lá de volta eu sentei o joelho no chão e agradeci a Deus por ele ter me tirado de lá. Eu poderia ser uma das vítimas”, declara.
Agora, como muitos na fila, Jailson parte para casa sem vontade de voltar para São Paulo.
Em nota, a Salvatta Engenharia alegou que sempre respeitou a legislação trabalhista e que está tomando as medidas necessárias para atender às exigências do Ministério do Trabalho. Até que os operários voltem aos estados de origem, a empresa vai ter que pagar para eles a conta do hotel, todos os gastos com transporte, refeição e ainda dar uma diária de R$ 20. Os trabalhadores também terão direito ao seguro-desemprego