Rio -  Em janeiro de 2004, três auditores fiscais do trabalho e um motorista foram assassinados em Unaí (MG), quando investigavam trabalho escravo em uma lavoura de feijão. Até agora, ninguém foi condenado pela chacina, que tirou as vidas dos auditores Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e do motorista Ailton Pereira da Silva.

O Brasil possui eficiente fiscalização do trabalho degradante. O Grupo Móvel atua desde 1995 e, a partir de 2003, já libertou mais de 35 mil trabalhadores, segundo dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra).

A escravidão não ocorre apenas em áreas rurais. Expande-se aos grandes centros urbanos, como em confecções de São Paulo, que exploram a mão de obra de imigrantes bolivianos e asiáticos.

Em 2010, 242 pessoas foram libertadas de situações análogas à escravidão em atividades não agrícolas, como construção civil (175 em obras do PAC!). Na zona rural, dois terços dos casos, entre 2003 e 2010, ocorreram na pecuária (17% em lavouras de cana de açúcar, soja, algodão, milho, café e reflorestamento; e 10% em carvoarias a serviço de siderurgias).

Por que trabalho escravo em pleno século 21? O lucro! Fazendeiros, parlamentares, magistrados e artistas de TV figuram entre proprietários rurais que adotam trabalho braçal de baixo custo em condições subumanas — o trabalho escravo.

A Organização Internacional do Trabalho calcula que, atualmente, haja no mundo de 12 milhões a 27 milhões de trabalhadores escravos. No Brasil, estima-se em 25 mil o número de pessoas submetidas a condições degradantes de trabalho, inclusive crianças.

É hora de as centrais sindicais descruzarem os braços quanto a essa nódoa do cenário brasileiro.
Frei Betto é escritor, autor de ‘Cartas da prisão’