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segunda-feira, 8 de outubro de 2012
A INSPEÇÃO DO TRABALHO MERECE UM GRANDE DEBATE
Compartilho um trecho da revista O Elo informativo do Sindicato Paulista dos Auditores fiscais do trabalho,
"A Auditoria Fiscal do Trabalho brasileira, popularmente
conhecida como Fiscalização, ou Inspeção do Trabalho, alcançou um grau de especialização técnica, eficiência e credibilidade, que hoje é motivo de orgulho para nosso país.
É citada com respeito e admiração nos importantes fóruns
internacionais, como o da OIT, em Genebra, ou nos cursos
da OIT em seu magnífico centro de treinamento em Turim,
na Itália. Tem servido de modelo para jovens países que
estão se iniciando nas modernas relações de trabalho, seja
na África, Ásia, ou mesmo a América Latina. Até Cuba já
enviou delegações técnicas para aprender, com auditores
brasileiros, a mediação em conflitos trabalhistas.
Isso tudo é verdade. Não é ufanismo, soberba, sentimento
de mediocridade motivado por algum fanatismo patriótico, ou
ideológico. Nossa auditoria fiscal do trabalho só alcançou seu
estágio atual de excelência técnica, depois de muita dedicação,
muito trabalho anônimo, muita investigação de campo, muita
experimentação, muito desprendimento e idealismo de seus
AFTs, de seus agentes públicos, de suas chefias, de comandos eficientes e profissionalizados, na cúpula do Ministério do
Trabalho, nos últimos 40, ou 50 anos. Foram alguns ministros e
dirigentes que tiveram visão futura, um grande espírito público.
Tinham a plena noção da importância da Inspeção do Trabalho na proteção dos trabalhadores, na prevenção de acidentes
e doenças ocupacionais, na construção de eficiente estrutura
jurídica que garantisse a inclusão de todos os brasileiros que
trabalham e geram a riqueza do país. Toda vez que prevaleceu
o discurso demagógico, populista, pretensamente ideológico, o
Ministério do Trabalho patinou, estagnou, até mesmo recuou.
Olhando para trás é possível ver o curto espaço de tempo em que tudo isso foi feito. As NORMAS REGULAMENTADORAS EM SAÚDE E SEGURANÇA, somente foram
consolidadas em 1978, quando o Ministério do Trabalho editou a portaria 3214. E quase ao mesmo tempo, o Ministério
criou o PAT, a FUNDACENTRO, convocou primeiro concurso
para admissão dos então inspetores do trabalho, formados
em medicina do trabalho e engenharia de segurança. Até
mesmo esses cursos superiores foram implantados nessa
mesma época, dando início à pesquisa e à especialização
em medicina do trabalho e engenharia de segurança. A partir
daí, a Inspeção do Trabalho, junto com esses setores acadêmicos, passaram a acumular uma extraordinária produção
técnica, colocando o Brasil na vanguarda mundial dos países
que fazem da prevenção meta altamente prioritária.
Em 1965 o governo Castelo Branco, que iniciou os 20
anos do chamado período militar, criou o Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço. No começo o FGTS foi criticado, olhado com
desconfiança por trabalhadores, empregadores e sindicalistas.
O empregador não queria contribuir e o trabalhador não queria
perder a estabilidade no emprego, então vigente. O Fundo veio
para substituir a estabilidade, um direito trabalhista que afugentava empresários de outros países. Porém, logo o Fundo se impôs, tornando-se direito sagrado dos trabalhadores. Sindicalistas
de hoje chegam a dizer que o FGTS foi a maior conquista da
classe trabalhadora! No entanto sua adoção foi tão importante
que levou o governo Castelo a criar o BNH- Banco Nacional de
Habitação, para operar os recursos do FGTS que passaram a
sustentar o então SNH- Sistema Nacional de Habitação, o mais
importante programa habitacional já feito no Brasil.
Talvez pela desconfiança inicial, a fiscalização do FGTS
foi um pouco negligenciada nessa época. Ela ficou a cargo
da Previdência Social. Seu corpo de fiscais, prioritariamente
voltado para a proteção da contribuição previdenciária, mesmo
com boa vontade, e competência, não conseguia dar conta do
fantástico volume de levantamentos fundiários nas empresas.
Assim, o governo Sarney concluiu que o FGTS necessitava de
fiscalização própria, e que teria de ser feita pelo corpo de inspetores fiscais do Ministério do Trabalho, mesmo porque estes já
detinham a competência para fiscalizar o registro em CTPS e a
folha salarial. Essa foi uma conquista histórica para a Inspeção
do Trabalho brasileira. Um marco inesquecível da administração
da ministra Dorotéia Werneck. Como foi, também, o ato do ministro Francisco Dornelles, ao promover os inspetores do Trabalho
para Auditores Fiscais do Trabalho, ingressando nossa categoria
na área do fisco. A Secretaria da INSPEÇÃO-SIT, não dispôs
de muito tempo para especializar os inspetores. O aprendizado
inicial foi árduo. A fiscalização – basicamente aplicação dos 8%
sobre a folha salarial – logo foi se tornando mais sofisticada e
quando o MTE ingressou na era da informática, ela ganhou uma
profissionalização altamente especializada, como se verifica
atualmente. Tem recebido elogios do conselho gestor do Fundo.
Nesse aprofundamento técnico a auditoria fiscal do trabalho não
pára de criar instrumentos técnicos para aperfeiçoar a auditoria
fundiária, o que é sempre mostrado com destaque em nossos
ENAFITS. Hoje o FGTS é o principal pilar da auditoria fiscal do
trabalho brasileira, dando a ela o caráter de arrecadadora.
Este sucinto retrospecto histórico, mostrando um passado
recente muito rico em iniciativas importantes, quando houve a
consolidação institucional da Inspeção do Trabalho em nosso
país, conduz, agora, à crítica do momento depressivo pelo qual
passa a instituição que acolhe os AFTs. Na verdade é o momento negativo do próprio Ministério do Trabalho e Emprego,
cuja perda de prestígio é galopante. Lenta rotina burocrática
envolve as atividades. Novos projetos, idéias criativas, luta pela
ampliação de competências e atividades, entusiasmo no exercício da função, encolhem, diminuem. A face mais preocupante
dessa realidade é a redução drástica do quadro ativo de auditores fiscais do trabalho, um processo asfixiante, detonado há
cerca de dez, ou quinze anos, e que prossegue, em que pese
recentes concursos realizados para admissão de novos auditores. Mas o número de novas admissões não corresponde, nem
de perto, ao daqueles que se aposentam, ou deixam a função
de modo definitivo. Outros órgãos oficiais, tanto federais, como
estaduais ou municipais, invadem nossas competências. Internamente continuamos com discussões intermináveis, e até
estéreis, sobre temas que só nos separam, como a questão
da especificidade, ou não, do auditor que atua na inspeção em
saúde e segurança. Ainda há carência de normatização. Cursos e treinamentos de atualização têm sido poucos e, ainda que
muito úteis, nem sempre atingem os objetivos. A uniformização
de procedimentos, clara e sempre atualizada, é condição fundamental para a seriedade e credibilidade da ação fiscal.
Este vasto rol de temas atuais merece ser posto em debate, em todas as ocasiões que se ofereçam, em todas as instâncias da auditoria fiscal do trabalho. Nada deve ser omitido,
evitado, sonegado ao AFT que, em contrapartida, precisa ser
participante, estar sempre ligado em tudo que se refira à nossa
atividade. Atualmente o número de colegas vindos de concursos
mais recentes já supera o daqueles de concursos mais antigos.
Depende desse pessoal mais novo, e de mais ninguém, a revalorização da Inspeção do Trabalho em nosso país, o fortalecimento da importante instituição pública a que pertencemos.
Dentro dela somos todos iguais e companheiros. Não é preciso
tratamento cerimonioso, afetado, entre colegas, o que sugere
intolerável pedantismo. A consciência tranqüila do dever cumprido, de honrar a auditoria fiscal do trabalho brasileira, de sentirmos úteis ao próximo e de bem servir ao povo de nosso país,
são os valores puros, singelos, transparentes, que devem nos
nortear em qualquer ato, no exercício dessa bonita e importante
atividade pública que, espontaneamente, abraçamos. (D.S.)"
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